13.2.06

Jabá

Coloquei dois novos blogs no ar:

http://blogslabpop.blogspot.com - Complia os textos que fiz para a coluna de blogs do site Laboratório Pop.

http://jornalismomusical.blogspot.com - Compliei aqui a maioria das entrevistas que eu fiz com personalidades do jornalismo musical (Lúcio Ribeiro, Marcel Plasse, Ricardo Alexandre & cia.) para sites como o Observatório da Imprensa. Na verdade, é a versão demo de um livro que eu desejo publicar sobre esse assunto. Quem sabe algum editor de livros olha e se anima com essa minha idéia. Se a Bruna Surfistinha teve seu blog transformado em livro, por que o meu também não pode...he he he

9.2.06

O contador de histórias

Cadão Volpato é um contador de histórias. O que o diferencia dos demais é o fato de conseguir usar duas manifestações artísticas para se expressar: a música e a literatura. Neste ano ele lançou ao mesmo tempo seu primeiro CD solo, chamado Tudo O Que Eu Quero Dizer Tem De Ser No Ouvido (Outros Discos), e seu terceiro livro, Questionário, (Iluminuras). Além dessa prolífica produção, seu currículo artístico-profissional tem pontos altos como letrista e vocalista da banda Fellini, apresentador do programa Metrópolis (TV Cultura-SP) e editor de cultura da revista Época. Mesmo com tantas atividades, ele foge do rótulo de multimídia. "Faço algumas coisas porque tenho um talento natural e uso isso. Trata-se de uma palavra tão antipática. Parece que a pessoa faz tudo mal", diz. Em seu disco de estréia, Cadão resolveu fazer tudo sozinho (e bem feito), desde o processo de composição até a gravação das músicas. Seria a radicalização do lema punk "do it yourself" em nome da simplicidade. "A minha idéia era fazer uma coisa simples. Como diz o Jorge Drexler, é uma coisa de ´canta-autor´. São baladas", afirma. Duas canções se destacam por essa faceta de "contador de histórias". Em "Carrossel", ele fala do pintor francês René Magritte. "Ele conheceu sua mulher em um carrossel. Eles se apaixonaram só de se olhar, mas foram se casar sete anos depois", diz. "Ela e os Beatles" fala de Astrid Kirshner, fotógrafa alemã que registrou a primeira fase da carreira daqueles quatro rapazes que iriam ser famosos anos mais tarde. "A história dela veio de uma Rolling Stone especial sobre o George Harrison na qual havia várias fotos dos Beatles tiradas nos tempos de Hamburgo. Eles tinham uma relação muito legal", afirma. Se em seu CD Cadão pegou referências externas, a gestação de Questionário foi diferente. "Eu inventei um processo. São 30 perguntas aleatórias para personagens, cujas respostas têm uma relação entre si. São alguns blocos de perguntas relacionadas com um mesmo período. Digamos que elas avancem do final dos anos 70 para meados dos anos 80. Eu criei uma espécie de monólogo, uma coisa meio teatral", diz. Outra de suas características é o fato de que que ele não deseja passar nenhuma mensagem. "Eu quero contar coisas que me emocionam, e isso é poesia. Se isso sai da minha mão de uma forma que emociona as pessoas, é o que importa para mim".


Esse é o original do texto que saiu numa das edições da Rock Press do ano passado. Só não lembro de qual mês. Isso é só um resumo. A entrevista que fiz com Cadão (em quase que sua totalidade) pode ser lida no Bacana

8.2.06

Eu queria ser Odair José

Finalmente o Brasil entrou na onda dos tributos artísticos. Prática comum lá fora, esse tipo de trabalho tem retorno garantido juntos aos fãs, sejam os do homenageado ou daqueles que homenageiam. O Tributo a Cazuza, que gerou filhotes em CD ou DVD, é um exemplo bem acabado disso. Um dos próximos a sair, ainda neste segundo semestre, tem foco na história de um artista controvertido, Odair José. Seu diferencial é conseguir uma proeza ímpar aqui no país que é colocar lado a lado artistas tanto da cena independente, como os artistas que estão no manistream.

O selo independente Allegro Discos, do Goiânia, prepara uma coletânea chamada "Vou tirar você deste lugar". Serão 20 faixas com recriações dos grandes sucessos de Odair. O mainstream se faz representado por Zeca Baleiro (Eu, você e a praça), Pato Fu (Uma lágrima) e o titã Paulo Miklos (Vou tirar você desse lugar) e a recém-promovida Leela (E ninguém liga para mim).

A cena independente comparece com bandas de peso, entre outras, como o Columbia, que ficou com "Eu queria ser John Lennon" uma das faixas mais representativas da carreira de Odair. "Cotidiano nº 3" ficou a cargo Los Pirata. Há até espaço para um nome dos anos 80: Picassos Falsos, que regravaram "Essa noite você vai ter que ser minha".

Sandro Bello, idealizador da homenagem e proprietário da Allegro Discos, comemora esse casamento que ele jura não ser proposital: "Conseguimos com esse tributo unir dois mundos distantes, o alternativo e o mainstream que não costumam se comunicar no dia-a-dia". Segundo ele, a escolha das bandas se deveu a afinidades de estilo com o trabalho de Odair José. Prova disso, para Sandro, foi o convite ao Pato Fu. O guitarrista John diz ver claramente um grande valor genuíno em sua obra. E acrescenta: "Nossa participação não foi em tom de sátira. Muito já foi feito desse modo em cima dos artistas chamados ´bregas´ e acho que isso inclusive já perdeu a graça. Tentamos fazer algo à altura".

Mesmo quem não tem tanta identificação com a obra de Odair José passou a ter uma visão diferente de sua trajetória após participar desse projeto. É o caso de Paco Garcia, guitarrista do Los Piarata. "Eu não conhecia tanto os discos e me aprofundei mais na sua discografia. Tem coisas muito boas". "Cotidiano nº3", faixa que a banda vai defender, tem letra em espanhol. "Foi muito divertido para nós gravarmos essa canção", afirma.

Diferente do que foi notíciado, o tributo a Odair José não vai contar com aquela que seria a cereja do bolo: a regravação que o Los Hermanos fez para "Vou tirar você desse lugar". Apesar da boa receptividade que Marcelo Camelo e seus colegas tiveram à idéia, problemas burocráticos impediram a inclusão da faixa.

Odair José já ouviu as faixas que farâo parte da coletânea e deu sua aprovação. "Ele gostou de todas, mas não deixou de apontar um certo estranhamento com algumas mudanças de arranjo", diz Sandro. No total, foram 35 convites para depois se chegar as 20 faixas. Algumas bandas não puderam participar por não conseguirem arcar com os custos de estúdio, caso do Autoramas.

Toda a popularidade de Odair veio acompanhada de grande polêmica na época em que atuou mais ativamente. Ele foi um dos maiores vendedores de disco do país e ganhou o título de "Bob Dylan da Central do Brasil". Mesmo assim, ele sofria o preconceito de uma grande parcela da dita "elite cultural", que resumia seu trabalho aos adjetivos "brega" e "cafona".

Mesmo sob tanta contestação, as músicas de Odair José são consdieradas mais contestadoras e provocativas que grande parte da produção da MPB daquela época. Nenhum outro artistia falou de temas tabus, como a prostituição, drogas, adultério e outras coisas bem barra-pesada como ele, numa época em que o regime militar viva seu apogeu. A coletânea seria uma ótima chance de apresentar Odair e contextualizar seu trabalho a uma nova geração.


Essa é a versão não-editada da matéria sobre o tributo a Odair José que eu fiz para a sétima edição da revista Laboratório Pop, publicada em outubro. Ela foi adaptada depois para o tamanho que estava disponível. Posso estar enganado, mas acho que foi a primeira revista a falar desse projeto, que saiu no início desse ano. Até então, ele só era notícia em sites da Internet . Recebi hoje um mail de Sandro Bello no qual ele comemora o fato da primeira prensagem do tributo ter se esgotado, graças aos pedidos dos lojistas.