9.2.06

O contador de histórias

Cadão Volpato é um contador de histórias. O que o diferencia dos demais é o fato de conseguir usar duas manifestações artísticas para se expressar: a música e a literatura. Neste ano ele lançou ao mesmo tempo seu primeiro CD solo, chamado Tudo O Que Eu Quero Dizer Tem De Ser No Ouvido (Outros Discos), e seu terceiro livro, Questionário, (Iluminuras). Além dessa prolífica produção, seu currículo artístico-profissional tem pontos altos como letrista e vocalista da banda Fellini, apresentador do programa Metrópolis (TV Cultura-SP) e editor de cultura da revista Época. Mesmo com tantas atividades, ele foge do rótulo de multimídia. "Faço algumas coisas porque tenho um talento natural e uso isso. Trata-se de uma palavra tão antipática. Parece que a pessoa faz tudo mal", diz. Em seu disco de estréia, Cadão resolveu fazer tudo sozinho (e bem feito), desde o processo de composição até a gravação das músicas. Seria a radicalização do lema punk "do it yourself" em nome da simplicidade. "A minha idéia era fazer uma coisa simples. Como diz o Jorge Drexler, é uma coisa de ´canta-autor´. São baladas", afirma. Duas canções se destacam por essa faceta de "contador de histórias". Em "Carrossel", ele fala do pintor francês René Magritte. "Ele conheceu sua mulher em um carrossel. Eles se apaixonaram só de se olhar, mas foram se casar sete anos depois", diz. "Ela e os Beatles" fala de Astrid Kirshner, fotógrafa alemã que registrou a primeira fase da carreira daqueles quatro rapazes que iriam ser famosos anos mais tarde. "A história dela veio de uma Rolling Stone especial sobre o George Harrison na qual havia várias fotos dos Beatles tiradas nos tempos de Hamburgo. Eles tinham uma relação muito legal", afirma. Se em seu CD Cadão pegou referências externas, a gestação de Questionário foi diferente. "Eu inventei um processo. São 30 perguntas aleatórias para personagens, cujas respostas têm uma relação entre si. São alguns blocos de perguntas relacionadas com um mesmo período. Digamos que elas avancem do final dos anos 70 para meados dos anos 80. Eu criei uma espécie de monólogo, uma coisa meio teatral", diz. Outra de suas características é o fato de que que ele não deseja passar nenhuma mensagem. "Eu quero contar coisas que me emocionam, e isso é poesia. Se isso sai da minha mão de uma forma que emociona as pessoas, é o que importa para mim".


Esse é o original do texto que saiu numa das edições da Rock Press do ano passado. Só não lembro de qual mês. Isso é só um resumo. A entrevista que fiz com Cadão (em quase que sua totalidade) pode ser lida no Bacana

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