26.12.05

Gay Talese

Virou moda aqui no Brasil prestar culto a jornalistas estrangeiros.

Talvez porque não temos mais a referência Paulo Francis.

Mas essa é uma outra discussão.

O fato é que hoje nós lemos e ouvimos falar bastante de jornalistas como Hunter S. Thompson, Lester Bangs, Tony Parsons.

E cada jornalista (ou aspirante a) brasileiro adota um deles ou qualquer outro como fonte de inspiração.

Se isso é bom ou ruim, também é outra conversa à parte.

Eu adotei como referência Gay Talese.

E não é de hoje. Vem desde 1988, quando li um perfil sobre ele e a tradução da introdução de "Fama e Anonimato" na revista Imprensa.

Tive a oportunidade de escrever sobre ele no Bacana.

Quem sabe um dia eu escreva como ele.

Graças a Gay Talese, aprendi que as atitudes falam mais que as palavras, as vezes.

Só que agora ele resolveu soltar o verbo em entrevista à Folha de S. Paulo.

E não poupou ninguém.

Eis alguns trechos representativos:

"Os editores buscam se dissociar do que Judith Miller escreveu inadvertidamente ou preconceituosamente. Pode-se dizer que ela se tornou porta-voz dos neoconservadores, ansiosos para invadir o Iraque. Mas ela não publicou seus artigos, só os escreveu. Havia até dez editores que estavam ali para revisar seus artigos antes de as manchetes serem escritas"

"O 'New York Times' ama o poder, é o que temos de mais próximo nos EUA de um jornal do estabilishment"

"(...)fontes devem ser expostas. No meu trabalho sempre dei nome às fontes. Eu jamais aceitaria uma informação sob a condição de não dizer ao leitor quem é minha fonte. Tudo bem, temos o escândalo Watergate e o garganta profunda, mas acredito que em 80% das notícias com fontes não identifica das o repórter simplesmente foi preguiçoso demais para apurar direito e seduzir suas fonte"

"Um outro problema é que há repórteres demais em Washington. Milhares deles. Circulam com as mesmas pessoas, são como pássaros bicando a mesma informação. Comem, mastigam, cospem, engolem de novo. O que eu faria, se ocupasse um cargo executivo em um jornal, seria retirar muitos desses repórteres de Washington. Eu os mandaria para as capitais dos 50 Estados dos EUA"

Comentário: dá para aplicar esse conceito de Talese ao Brasil. É a velha história, menos Brasília, mais Brasil.

"Foram os editores que deixaram que Jason Blair colocasse seus artigos no jornal. Ele escreveu 67 reportagens para o jornal.O jornal culpa Blair e o demitiu, mas os culpados estão no topo. Se a família Sulzberger administrasse a General Motors, a CBS ou a Sony e cometesse tantos erros os conselhos de administração já teriam se livrado deles"

Outro comentário: mais um conceito que se pode aplicar em casos recentes que tivemos aqui no Brasil.

E tem muito mais de onde vieram essas. Uma entrevista imperdível.

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